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domingo, 20 de novembro de 2011

A Penteadeira

Engraçado como certo dia nos pegamos dizendo aos nossos filhos: no meu tempo era assim ou na minha época se fazia assim. Mais engraçado ainda é quando você ouve logo em seguida uma frase da sua filha de 6 anos dizendo para você: “no seu tempo não mãe, o seu tempo é hoje, porque você ainda não morreu”. Que coisa mais óbvia não? Ela tem toda a razão do mundo. Claro que meu tempo ou o tempo de qualquer pessoa é hoje, afinal nosso momento é sempre o presente, o que estamos vivendo e o correto seria usarmos a expressão: quando eu tinha tal idade ou quando eu era criança, ou quando eu era adolescente. É só uma questão de recolocação de expressão para não colocarmos tanto peso (se é que esse peso é assim tão pesado) do tempo passando ao nosso lado.

Ah, esse valioso e inestimável tempo! Com o qual nos ocupamos, nos desocupamos, namoramos, casamos, descasamos, estudamos, aprendemos, crescemos, viajamos ou não, trabalhamos, seja no que queremos, seja no que nos é possível trabalhar. É com esse amigo e amado tempo também que fazemos amigos, deixamos uns para trás, reencontramos alguns outros, fazemos novos e estes também vão ficando para trás, enquanto nossas vidas vão seguindo por encruzilhadas distintas. Quando eu era ou quando eu fui na verdade é o hoje, que daqui a pouco se transformará no quando eu era novamente, e assim rodamos essa maravilhosa e surpreendente manivela do tempo e da vida.

Quando eu era criança, por exemplo, o contexto de família para mim poderia ser meus pais, meus irmãos, avós, primos e tios mais próximos. Já quando eu me tornei adulta, esse significado mudou e se tornou muito mais abrangente, incluindo ou, por escolha de muitos, exclusivamente, filhos, marido, ou ex marido, ou ainda um novo marido. Essa é a explicação que mais se aproxima do que estou tentando dizer. Quando eu era e/ou quando eu fui é o acúmulo de experiências vividas ou não vividas e como eu lido com toda essa vivência, que me tornou o que hoje eu sou.

Um dia desses conversando com um amigo mais velho que eu, descobrimos que vivemos o tempo presente como qualquer garoto de 15, 18 ou 20 anos. Acessamos nossos e-mails, estamos ligados nas redes sociais, aos blog´s, aos twiters, já tivemos contato com o tal youtube, trocamos arquivos pelo bluetoothe, conhecemos as telas de cristal líquido, LED, plasma, o tal do touchescreen, clonagem, células tronco, enfim. Vivemos este tempo presente, que também é nosso, claro, pois estamos nele, mas nos pegamos usando gírias e expressões de décadas que muitas vezes nem correspondem às décadas em que nascemos. Décadas anteriores às nossas. E aí nos descobrimos ser de uma geração específica, que para não usar um termo muito moderno como retrô, nos descobrimos ser da geração da PENTEADEIRA.

A penteadeira virou nosso código. Se um pega o outro cantarolando uma música que vou tentar reproduzir um trecho aqui : … “E aquela blusa que você usava, num canto qualquer, tranquilha esperava...” um de nós já dá um olhar penetrante para o outro e diz: “essa vai entrar na lista da penteadeira hein!”. E o mais interessante, apesar desse meu amigo teoricamente ser de uma geração anterior a minha, ambos sabemos a letra inteira, porque pessoas do “tempo da penteadeira” são atuais, mas são retrôs também, porque ser "penteadeira" é ter sido da geração coca-cola, do roda-baleiro, do diretas já ou curtido o circo voador. Ser "penteadeira" é ser antenado no quando eu era e no que hoje eu sou. É ter um certo descuido com o cara que está te olhando lá do outro lado da rua, quando você está num barzinho rindo com amigos. Melhor dizendo, nem percebê-lo mesmo, porque essa atenção toda ficou no tempo de quando eu era e o que hoje sou me permite ter esse descuido, porque vivo hoje um outro tempo. É ter um certo prejuízo na memória recente tão evidente, ao ponto de ser necessário recorrer ao recurso dos tais post-its, ou utilizar-se da memória prodigiosa do amigo mais próximo para lembrar para quem era mesmo que tinha que retornar um telefonema. Ser "penteadeira" é ter uma memória remota tão preservada capaz de recordar, entre outros assuntos, peças publicitárias e jingles de quando eu era.

Quero um dia fazer uma relação para complementar este texto sobre as pérolas interessantíssimas que reuni com alguns amigos ao longo de alguns anos. Serão, sem dúvida um apanhado de assuntos que farão muitas pessoas do tempo de hoje, da tal tecnologia da informação obter material suficiente para pelo menos uma meia dúzia de piadas, rotular as gerações anteriores de cafonas ou, se preferir, reunir material para boas pesquisas sobre quando alguém era ou quando alguém foi.


San Carvalho
Fevereiro/2011.


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